Este ensaio fo gentilmente produzido e disponiblilizado pelo nosso colega Yuri Kalel Sampaio para que sirva de apoio e estímulo a outros discentes que desejem também poestar seus escritos em nosso blog.
Obrigada Yuri!
1. Introdução
Almeida Garrett, escritor português do início do século XIX, tem uma notável obra e foi responsável pela introdução da escola romântica em Portugal. Sua obra “Camões” é considerada a primeira da escola sentimental em Portugal, rompendo com os modelos delineados pelo arcadismo e ideologias iluministas. Porém, mesmo tendo inaugurado o período Romântico na sua terra, não se desvencilhou por completo dos modelos anteriores, fazendo com que suas obras ainda ficassem marcadas por elementos neoclássicos. O próprio autor afirma que acha necessário inibir as emoções, utilizando a razão como ponderadora, além de desenvolver uma poesia em que há uma preocupação com a forma, em que também se utiliza de personificações de estados e símbolos da antigüidade.
Um destes símbolos é a flor, a qual, na sua poesia de acentuado tom erótico, representa o objeto de desejo. Na obra “folhes caídas”, Garrett apresenta uma criação cheia de lirismo e sensualidade, na qual o “eu” lírico expõe seus sentimentos pela Viscondessa da Luz( Rosa Mentúfar Barreiros), que assumem diversas formas como desejo carnal, amor platônico, saudades. Essas variações ocorrem em um ambiente artificial de teatralidade, em notável clima de erotismo e ambigüidades, sendo a flor o principal recurso para expressar os duplos caminhos que o sentido de seus poemas pode seguir.
Através da Obra Camoniana, notamos uma convergência de pensamento entre os dois autores, no que confere do uso da rosa para expressar a sensualidade, deste modo simbolizando a mulher.
2. Análise
Em “Os Lusíadas”, uma das estrofes mais notáveis são aquelas que descrevem a beleza de Vênus, deusa romana do amor. Nos versos a seguir de grande lirismo, Camões compara as partes pudendas da deusa com um lírio:
Cum delgado Cendal as partes cobre
De quem vergonha é natural reparo;
Porém nem tudo esconde nem descobre
O véu, do roxo lírio pouco avaro;
“Roxo Lírio” é a forma como o Poeta chama as genitais de Vênus. Camões, apropriando-se de uma tradição clássica, recorre a um signo freqüente na literatura e cultura da antigüidade, a flor, que representa a mulher e sua intimidade, marcadamente usada em poemas de tom erótico e sensual.
Clima este que se acentua na poesia de Almeida Garrett. Em “folhas caídas”, livro de poemas, o “eu” lírico expressa suas nuances sentimentais, as quais representam as paixões do autor pela Viscondessa da Luz. Pelo fato de o autor ainda apresentar uma mentalidade presa aos modelos da época anterior, sua criação é permeada por uma estética clássica de composição, quanto à forma e o lirismo que exalta as sensações e os sentidos. Confere aos seus poemas um caráter ambíguo de erotismo, através de criações simbólicas, porém de fácil percepção devido aos elementos próprios do desejo carnal, como as percepções sensitivas:
Formosos- são os pomos saborosos,
É um mimo- de néctar o racimo:
E eu tenho fome e sede... Sequiosos,
Famintos meus desejos
Estão... Mas é de beijos, É só de ti- de ti!
Por fim, apontaremos um trecho em que a flor metaforiza a mulher desejada, sobretudo a intimidade, assim como elucidada nos versos camonianos. Pela exortação das sensações e percepção destas pelos sentidos, propicia um caráter de amor carnal:
Quem bebe, rosa, o perfume
Que de teu selo respira?
Um anjo, um silfo? Ou que nume
Com esse aroma delira?
Qual é o deus que namorado,
De seu trono te ajoelha,
E esse néctar encantado
Bebe oculto humilde abelha?
3. Conclusão
Na leitura proposta acima, notamos como a obra de dois escritores notáveis na literatura portuguesa, em escolas diferentes, pode ter elos de convergência. Camões e Almeida Garrett serviram-se da mesma fonte, a antigüidade clássica, e absorveram os seus símbolos e suas perspectivas, no que concerne principalmente ao amor e à mulher. Esta sempre descrita a obter um culto direcionado à sua beleza e sensualidade.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário